VAREJO/BALANÇO – Crescimento do varejo será de 5% a 8% em 2020
Os fatores econômicos começam a se impor. Os indicadores estão bem, as reformas devem evoluir, o mercado de trabalho pode abrir novas vagas, e o emprego formal e a renda se recuperam de forma constante, embora lenta. “Isso leva à projeção de que o crescimento do mercado de eletroeletrônicos, em 2020, ficará entre 5% e 8%, com viés positivo, superando os 4,8% obtidos em unidades vendidas em 2019, e os 9,3% de aumento em valor, uma prova de que está aberto o caminho para a retomada da premiunização”, diz Henrique Mascarenhas, diretor da empresa de pesquisas GfK.
Outras variáveis, no entanto, devem merecer atenção no ano, entre elas o cenário mundial, que poderá influir no fluxo de capital, os investimentos diretos em infraestrutura, que são dependentes de marcos regulatórios, e as privatizações, lembra Henrique. “Em 2020, não há uma liberação de renda (lump sum) como ocorreu em 2018 e 2019 através das contas do FGTS. Caso haja um programa similar, ele poderá dar impulso extra ao crescimento, como no ano passado.
O consumidor, entretanto, personagem fundamental nesse cenário, ainda tem medo e não recuperou totalmente a confiança, embora ela esteja crescendo desde maio de 2019, conta o diretor da GfK. “Ele consome de forma mais consistente do que na pós-eleição presidencial. O boom de então somente se sustentaria com milagres, mas este é o ano que pode gerar empregos e fazer o consumidor sair do pessimismo. O crescimento do País passa, necessariamente, pelo mercado consumidor, e se este entrar no otimismo, o resultado será melhor que o esperado para o segmento de eletroeletrônicos.”
“Nos dois últimos anos, o consumidor ficou mais consciente, mudou por causa da crise, e agora quer comprar melhor e com menos dinheiro.”
Tendências
A casa conectada é uma tendência para 2020, ano que pode indicar crescimento mais forte desse segmento, no futuro. “Hoje, essa tecnologia ainda está restrita às classes A e B e a 10% das famílias brasileiras, mas a queda de seu preço poderá levar esse conceito para a classe C em 2021”, diz o diretor da GfK.
O mercado do smartphone continua forte. A migração do consumidor para aparelhos com tela acima de 5,6”, mais premiuns e mais caros, sustentou o crescimento da categoria, em faturamento. Foram mais de 40 milhões de unidades vendidas, 3% a menos que no ano anterior, o que se explica pela mudança da preferência do consumidor, que opta por produtos mais caros, e pelo amadurecimento do mercado. A tendência crescente para 2020 é de modelos com telas grandes, maior memória e múltiplas câmeras. Os aparelhos de preço mais elevado continuam como objetos de desejo.
Na linha branca e na categoria de eletroportáteis, a tendência é de expansão das vendas no segmento de smart home. No caso dos televisores, a expectativa é a entrada de marcas chinesas no mercado brasileiro. Vale lembrar que, no ano passado, marcas de telefonia da China tiveram bastante destaque no mercado brasileiro, mas ainda sem afetar a hegemonia das marcas estabelecidas.
Comportamento
Os produtos estão cada vez mais globais, as tendências são mundiais, assim, as novidades não são tantas, mas o consumidor está ávido por equipamentos premium. “Nos dois últimos anos, ele ficou mais consciente, mudou por causa da crise, e agora quer comprar melhor e com menos dinheiro. Por isso, promoções como a Black Friday são importantes para o consumidor”, conta Henrique. Em 2019, o desempenho da Black Friday ficou acima de todas as expectativas e contribuiu para o fechamento do ano.
Mais uma mudança de comportamento foi constatada pela GfK, relata o diretor. “Independentemente de classe social e faixa etária, atualmente não existe barreira para o consumidor em termos de canais. Ele não é só online ou offline, o que ele quer mesmo é rapidez e ficar satisfeito porque conseguiu comprar melhor. Seu comportamento é phigital, misto de físico e digital, e está levando o varejo a passar por grande transformação.”
Nomes importantes do e-commerce começam a entender que o mundo também é físico, mas as dúvidas são muitas, a começar pela escolha dos produtos para a loja. Como saber qual é o mix adequado para quem compra pensando em conveniência? “A mudança é drástica, dentro de algum tempo a loja será totalmente diferente. Vai precisar de logística eficiente, de informação nos produtos, de serviço e de atendimento mais rápido. O consumidor vai querer gastar mais tempo entendendo o produto que vai comprar do que fazendo o pagamento dele”, diz Henrique.
Balanço de 2019
A linha branca foi destaque, cresceu em volume e em faturamento, com produtos premium. No primeiro, chegou a 9,1%, excluindo a categoria de ar-condicionado. Com ela, o faturamento subiu 19%. “Em 2019, começou a retomada da venda de itens premium da linha branca devido à demanda reprimida, e essa tendência continua. As pesquisas mostram que famílias com renda mensal de R$ 4.800 caminham mais rápido para o otimismo. Em 2015, o que determinava a compra era o preço”, explica Henrique. Cresceram, também, as vendas das lavadoras automáticas com porta frontal.
Os televisores, praticamente, mantiveram o desempenho do ano anterior, que foi de Copa do Mundo. Mais uma vez, a demanda reprimida, a maior da série histórica, teve forte influência. No ano passado, foram vendidas 11 milhões de unidades. “O consumidor quer uma televisão smart, com tela grande, acima de 50” e 4k. O aparelho com melhores recursos ficou com preço acessível e se transformou no cinema em casa”, diz o diretor.
“Independentemente de classe social e faixa etária, atualmente não existe barreira para o consumidor em termos de canais. Ele não é só online ou offline, o que quer mesmo é rapidez e ficar satisfeito porque conseguiu comprar melhor.”
A categoria de ventiladores foi mais uma que registrou bom desempenho. As vendas cresceram 20% em unidades. Nos eletroportáteis, também predominaram os produtos premium. As cafeteiras de cápsula venderam 12% a mais em relação a 2018, as batedeiras, 2,9% e os fornos elétricos, 0,7%. Os micro-ondas tiveram queda de 4% nas vendas, o que é explicável pelo entendimento de que o produto é complementar na cozinha e não um substituto do fogão.
Fonte: Revista Eletrolar News ed. 135