Logística em foco
Desafios, iniciativas e expectativas
A exigência do consumidor tem mudado o perfil das operações logísticas. Entregas rápidas e no mesmo dia já são uma realidade, muito ajudada pela tecnologia. Por outro lado, a falta de infraestrutura de qualidade e o cenário econômico do País ainda são entraves para o maior desenvolvimento do setor.
por Dilnara Titara
O setor logístico nunca foi tão observado como nos últimos anos, e sua necessidade é cada vez mais evidente. No início da pandemia, a demanda por produtos e insumos teve queda. Poucos meses depois, porém, cresceu de maneira exponencial, acompanhada pelo aumento no valor do frete e do combustível e dos entraves do território brasileiro. Esses fatores obrigaram toda a cadeia a se reinventar com a utilização da tecnologia para garantir a demanda do varejo e a entrega mais rápida.
As novas operações de logística estão mudando, e a introdução da tecnologia é uma dessas mudanças. “O setor está em uma busca constante de inovação. A tendência é criar soluções que tornem as entregas cada vez mais rápidas e sustentáveis. Acreditamos que os avanços na tecnologia e no setor de energia serão ainda mais aliados da logística mundial”, diz Daniel Ribeiro, diretor de logística da Via.
O setor de logística enfrenta um problema de duas variáveis, de densidade e de escala, destaca Luiz Vergueiro, diretor de operações do Mercado Livre. “Todo lugar onde há baixa densidade de entregas representa dificuldades. E, com escala, as grandes empresas conseguem tornar todo o processo logístico e o frete mais baratos.”
Desafios logísticos
Cada região brasileira, no que diz respeito à logística, tem um perfil diverso. Jorge Catani, diretor de logística da Infracommerce, conta que a Região Norte, por exemplo, não se conecta às demais. A capital Manaus (AM) tem um polo industrial gigantesco, com a maior produção de linha branca do País, mas o principal modal é o marítimo. Para chegar ao outro lado do Rio Amazonas são necessários de cinco a sete dias, e só então é possível seguir viagem rodoviária até os grandes CDs.
Com as dimensões do País, o setor enfrenta um elenco de dificuldades, e é evidente a importância de um trabalho integrado. “Os principais desafios da logística brasileira são a falta de infraestrutura de qualidade, a defasagem da estrutura de transporte, a ausência de conexão entre os modais e a grande concentração do transporte no setor rodoviário, além da falta de segurança nas vias”, diz Jorge Catani.
Segundo dados divulgados pela Confederação Nacional do Transporte (CNT) e pelo SEST SENAT, resultado da 25ª edição da Pesquisa CNT de Rodovias, o estado geral da malha rodoviária brasileira piorou em 2022. Dos 110.333 quilômetros avaliados, 66% foram classificados como regulares, ruins ou péssimos. Em 2021, esse percentual era de 61,8%.
Ainda existe uma burocracia muito grande na legislação do setor, que complica a digitalização total das operações e precisa ser modernizada. “A tributação, como em outros setores, também é um desafio, bem como a distribuição urbana de cargas e o conflito com a dinâmica das cidades, forçando soluções criativas por parte dos operadores logísticos e autoridades”, diz Rodrigo Paixão, CEO da Contrail Logística.
A adoção de novas tecnologias para automatizar processos, agilizar entregas, personalizar o atendimento e oferecer uma melhor experiência ao cliente pode mudar o setor logístico no País. Além disso, é importante o investimento na malha ferroviária e o maior uso da malha hidrográfica para integrar os modais e conectar todos os estados de maneira mais eficiente.
Novidades na rota
A introdução da tecnologia é uma das principais vertentes colocadas como oportunidade de avanço do setor logístico no Brasil. Algoritmos de roteirização atingem com eficiência a máxima otimização de veículos de última milha. Outro ponto na área da economia é a criação do crédito para a renovação e a ampliação da frota. Na infraestrutura, é preciso dar equidade às estradas e segurança para as diversas regiões.
O setor logístico é um dos mercados que mais crescem no mundo, destaca Gabriel Pavan, executivo de contas da KM Cargo. “Acreditamos que as melhorias a serem feitas no País giram em torno das estradas, as quais poderiam ser de fácil acesso, atenuando avarias, diminuindo a quilometragem e, consequentemente, baixando o custo logístico.”
Estratégias de fulfillment e fullcommerce têm crescido no setor. A omnicanalidade é outro movimento que influencia o futuro da logística, adequando-se às novas exigências do consumidor “figital”. A Via observou crescimento de 200% em vendas online no segundo trimestre de 2022, em novas praças, movimento que se repete no cenário macro da companhia, em que cerca de 50% das vendas digitais passam pelas lojas físicas.
O mercado do varejo está mudando com o e-commerce. Ele é a ponta de um iceberg de produção, manufatura, processamento e transportes de itens que, ao final, serão vendidos na plataforma. “Estima-se crescimento de até 56% no e-commerce brasileiro até 2024. Um mercado que vai sobreaquecer, exigindo mais inteligência, recursos e investimentos direcionados a garantir a capacidade logística do país”, diz Alex Fontes, gerente sênior de transportes do Mercado Livre.
Expectativas para o setor
Com a implementação de novas tecnologias no setor logístico, é possível tornar os processos mais ágeis. As empresas podem testar novos modelos de negócios, monitorar performance, roteirizar a entrega e otimizar o tempo. O uso da tecnologia está diretamente relacionado à otimização de investimento e tempo.
Uma alternativa importante para descentralizar o modal rodoviário e focar na logística mais eficiente e sustentável é o investimento no modal ferroviário. O fluxo de escoamento através das ferrovias vem ganhando muito share, chegando aos principais portos do Brasil, ocasionando, ao final, a integração e a utilização dos três modais (ferroviário, rodoviário e marítimo). Isso gera, consequentemente, um custo de transporte mais baixo.
Além das expectativas associadas às novas tecnologias, há o compromisso em torno de recursos e possibilidades de boas práticas sustentáveis. “Entendemos que a sustentabilidade é um conceito de desenvolvimento baseado na visão global dos processos de uma organização, com crescimento duradouro e uso equilibrado de recursos. Uma empresa sustentável promove igualmente, a prosperidade e o bem-estar de todos”, afirma Pedro Maniscalco, diretor de operações da Jamef.
O transporte rodoviário de cargas (TRC) vem se adaptando às mudanças e investindo em tecnologia e capacitação dos profissionais do setor, diz Lauro Valdivia, assessor técnico da NTC&Logística. “Espera-se que as promessas de melhoria da infraestrutura se tornem realidade. Houve melhorias, mas ainda estão distantes da necessidade do mercado. É preciso melhorar as condições das estradas, dos portos, aeroportos, trânsito urbano, diminuir burocracias e exigências, etc.”
Insights de cada empresa
Veja como as empresas entrevistadas se adaptam para enfrentar dificuldades, suas estratégias e os veículos que utilizam para o transporte dos produtos.
Fonte: Eletrolar News #152