ESPECIAL PRESIDENTES ENTREVISTAS
Por Leda Cavalcanti e Dilnara Titara
A brusca parada das atividades provocada pela pandemia, em 2020, colocou à frente de todos os setores obstáculos que pareciam intransponíveis, justamente em um ano que havia começado razoavelmente bem, com aumento de 8% nas vendas de eletrodomésticos e eletroeletrônicos até o início de março. Com as lojas fechadas e um clima de quase inércia, o segmento foi à luta com agilidade e criatividade.
O varejo acelerou o e-commerce, ampliou o mix de produtos e criou ações de apoio para os que não tinham familiaridade com a plataforma. A indústria utilizou seu canal diretor para se comunicar com o consumidor. Se este não podia chegar até eles, ambos se moveram em sua direção, enfrentando os conhecidos desafios da malha logística brasileira. Houve perdas, é verdade, mas as ações contribuíram para tornar o cenário menos impactante.
Agora, é urgente um planejamento estratégico para recuperar a economia. Medidas como o auxílio emergencial ajudaram a amenizar a situação no ano passado, injetaram recursos na economia, mas não há condições de torná-las permanentes. Ações paliativas são úteis em determinado momento, mas os avanços passam, necessariamente, pela vacinação em massa da população. É ela que vai ditar o ritmo da retomada.
O Brasil precisa de uma agenda consistente, com inclusão de reformas há muito esperadas, como a tributária, uma vez que o sistema atual trava o crescimento e a produtividade. São inúmeros os problemas a serem solucionados e muitas as incertezas. O País precisa ser mais rápido e oferecer maior estabilidade para que 2021 não se transforme em mais um ano de múltiplos desafios.
ATAN
Especializada em eletrodomésticos e atuante no Nordeste, a distribuidora pernambucana tem a meta de crescer em 2021, diz o presidente. “Trabalhamos para atingi-la, mas a perda do poder de compra pode nos afetar.”
O desafio, hoje, é garantir o abastecimento dos principais produtos sem comprometer a receita, conta Sebastião. “Na distribuição, a linha entre resultado positivo e negativo é sempre muito tênue. Não temos marca própria.”
“Na distribuição, a linha entre resultado positivo e negativo é sempre muito tênue.”
Destravar a agenda de reformas é preciso, mas, no curto prazo, o auxílio emergencial ajuda, diz Sebastião. “A cotação do dólar, aliada à escassez de insumos e à alta dos preços do aço, acertou a espinha dorsal do segmento.”
FUJIOKA
A expectativa é de expressiva melhora no segundo trimestre, considerando o avanço da imunização e a regularidade no abastecimento, diz o presidente. “O varejo e a indústria entraram em 2021 com níveis baixos de estoque e com o impacto do dólar. O e-commerce se tornou mais relevante, avançamos em eficiência nos processos internos e implementamos melhorias na experiência em loja. Isso, somado à projeção de crescimento do PIB, mesmo tímida, nos faz crer em um ano melhor que 2020.”
Em outras crises, a economia do País demonstrou grande capacidade de recuperação e não deve ser diferente agora, diz Teruo. “O brasileiro não deixa de consumir. Alguns aspectos que ajudariam a acelerar a economia referem-se ao avanço das reformas tributária e administrativa. A variação do dólar também se reflete no custo da operação. Equipamentos, softwares e ferramentas utilizadas estão, de alguma forma, sujeitos à variação de custo em função da moeda.”
“A atenção ao mercado e a percepção das oportunidades serão fundamentais para o nosso sucesso.”
A Fujioka quer acelerar em 2021. “A atenção ao mercado e a percepção de onde podemos ter mais oportunidades serão fundamentais para o nosso sucesso. No canal de distribuição, investiremos muito em tecnologia e logística. No varejo, continuaremos otimizando lojas com maior potencial de vendas e buscaremos oportunidades consistentes de expansão”, conta Teruo.
GEONAV
A empresa espera faturamento maior em 2021, diz o diretor. “Apesar de 2020 ter sido atípico, conseguimos boa recuperação e terminamos o ano com resultados positivos. Em 2021, a expectativa é de crescimento de 25% no faturamento sobre o ano anterior. Teremos muitos lançamentos nas nossas linhas, como áudio, tecnofatos e casa conectada. Faz parte da nossa estratégia a implementação de novos segmentos, que pretendemos exibir na Eletrolar Show.”
Na economia, Rafael observa que, após o mês de janeiro ter sido bastante conturbado, vê um ambiente mais propício para alguns assuntos que estão em pauta há bom tempo. “É o caso da reforma tributária, ao menos no sentido de simplificação. E a fiscalização das marcas que trabalham de forma irregular.”
“A expectativa para 2021 é de crescimento de 25% no faturamento sobre o ano anterior.”
Hoje, diferentemente do passado, boa parte dos produtos da empresa é importada, e há uma influência direta do dólar na precificação. “Estamos amenizando ao máximo aumentos significativos de forma a encontrar alternativas para manter nossos produtos com qualidade e preços compatíveis com o mercado brasileiro. A empresa busca, através de instrumentos financeiros, manter um dólar médio para trabalhar com maior tranquilidade ou, ao menos, dentro de um patamar por um período, para não vivenciar aumentos e decréscimos tão oscilantes.”
NACIONAL SMART
A expectativa da empresa é positiva para 2021, diz a CEO e presidente. “Esperamos crescimento mínimo de 100% no faturamento na comparação com o ano passado, quando, mesmo com a pandemia, obtivemos excelente resultado. Com as novidades que apresentaremos neste ano, o faturamento, com certeza, será maior que o de 2020.”
Na área econômica, Monique diz que o setor em que a empresa atua está indo bem, mas faz uma ressalva. “Precisamos de muita atenção na questão dos impostos, principalmente no IPI, para estimular o crescimento das vendas.” O dólar tem influência direta nos produtos. “A marca é internacional, mas como temos boa programação de estoque, conseguimos segurar o valor na pandemia.”
“Teremos muitos lançamentos e uma nova marca de acessórios, que é parceira da nossa iMonster, nos Estados Unidos.”
Neste ano, a empresa está totalmente voltada ao crescimento digital, atendimento, marketing e ao novo site de e-commerce. “Teremos muitos lançamentos e uma nova marca de acessórios, que é parceira da nossa iMonster, nos Estados Unidos. Nossas baterias serão homologadas pela Anatel para maior segurança de clientes, assistências técnicas e franquias”, conta Monique.
NAGEM
O sentimento é de otimismo e de faturamento maior ante 2020, diz o presidente. “Devido ao fechamento das lojas físicas, nossas vendas ficaram muito concentradas no e-commerce, mas com a retomada das atividades econômicas, embora lenta, esperamos crescer e voltar aos volumes de vendas pré-pandemia.” Nos planos de 2021, estão a ampliação da oferta dos “eletrinhos”, como forno para pizza, batedeira e liquidificador, e a maior presença em algumas praças. Há pouco, a Nagem abriu mais uma loja em Salvador (BA).
Hoje, o sucesso depende das reformas administrativa e tributária, que precisam ser feitas urgentemente, são fundamentais para o crescimento econômico do País. Do contrário, teremos grandes problemas, afirma Halim. “A solução mais consistente passa pela vacinação em massa da população. É isso que vai recuperar a economia, o emprego e a renda.”
“Nos planos de 2021, estão a ampliação da oferta de produtos e a maior presença em algumas praças.”
A convivência com uma inflação em dólar já repercutiu no consumidor. “Houve perda do poder de compra. A alta valorização da moeda atingiu todas as classes sociais. Os preços praticados foram impactados em até 30% ao consumidor na ponta. Como é que ele vai reagir? Estamos competindo com outros itens nas prioridades das famílias, como alimentação, escola e saúde. Isso afeta não só o nosso setor, mas toda a cadeia econômica”, observa Halim.
NEWEX
A empresa espera crescer acima de dois dígitos este ano, diz o diretor. “A pandemia elevou a demanda por nossos produtos. Antes, o PC da casa era da família, mas em 2020 foram comprados mais equipamentos e, também, notebooks e tablets. Além disso, muitos fizeram upgrade nos aparelhos que já tinham. Estamos investindo bastante em novos produtos, equipe de profissionais e novo sistema, preparando-nos para esse crescimento.”
O ano de 2021 começou bem para a Newex, diz Marcelo. “Só neste trimestre foram dezenas de lançamentos nas categorias de áudio, kids, game e na linha Oex Enjoy. Teremos mais novidades neste semestre e vamos revigorar linhas já existentes, o que é sempre válido para itens de sucesso. Também estamos estruturando a equipe, com mais profissionais capacitados e novo programa quinzenal de reciclagem sobre o conteúdo técnico dos produtos.”
“Neste trimestre foram dezenas de lançamentos nas categorias de áudio, kids, game e na linha Oex Enjoy.”
Neste início de ano, a economia está travada, mas deve melhorar a partir de maio, diz Marcelo. “O mais importante é não haver demissões e retrocesso nas estimativas de crescimento do PIB.” Dos produtos da empresa, 90% são importados e, por isso, afetados pelo valor do dólar e dos fretes internacionais. Mas o que preocupa, no momento, é o aumento de preço das commodities. “Isso tem impacto direto nos preços dos nossos produtos”, conta o diretor.
IWILL BRASIL
A empresa espera recuperação da economia, mesmo que de forma mais lenta, diz o CEO. “Acreditamos que as vendas irão crescer junto com o aquecimento do mercado. Temos uma linha de produtos completa, e muitas novidades virão em 2021.”
Entre elas, carregadores e linha de música, conta Jeferson. “A diversificação das linhas de acessórios para o mercado Apple é o nosso DNA. Nossa intenção é expandir o mix e trabalhar com outras marcas de grande nome no mercado.”
“Temos uma linha completa e muitas novidades virão em 2021.”
Como trabalha com importação, o dólar afeta diretamente os negócios da empresa, com reflexo imediato no preço dos produtos. Porém, seus clientes percebem o valor agregado à marca. “Nós nos preocupamos mais com a experiência dos usuários do que com outros fatores”, diz Jeferson.
ODERÇO DISTRIBUIDORA
O ano de 2020 foi excelente para a Oderço, afirma o CEO. “A meta de crescimento era de 40%, e chegamos a mais de 90% ante 2019. Trabalhamos com cadeiras, computadores e acessórios. Crescemos com a demanda gerada pela pandemia. Em 2021, é possível crescer mais.”
No início deste ano, ampliou a categoria Geek, ao trazer a líder Funko para o seu portfólio de colecionáveis. A marca Pcyes, que foca o segmento PC gamer, é o carro-chefe. Também entra no setor de energia solar e trará novidades com o investimento em tecnologia.
“Em 2020, crescemos mais de 90% ante 2019.”
A valorização do dólar, porém, afeta a empresa, diz Matheus. “É notável que produtos premium vendam menos e sejam substituídos por itens de entrada devido à renda do brasileiro permanecer a mesma, o que reduz o seu poder de compra.”
RCELL TELECOM
Projeta um ano mais estável, com crescimento, diz o diretor de marketing. “Faz parte do DNA da empresa ousar. Em 2021, entrará no ar a Loja Rcell, plataforma B2B, que levará nossos produtos às regiões mais remotas do País, com vendas automatizadas e informações ao cliente sobre rastreio do pedido, melhor modal e impostos. Também diversificará o portfólio, inclusive o de produtos inteligentes da marca própria Rsmart.”
A indústria mundial ainda se recupera do vácuo deixado pela pandemia, e a produção deverá se normalizar a partir do segundo semestre. “Apostamos na projeção de crescimento do País em 2021, entre 3,5% e 4%, mas o Brasil precisa avançar com as reformas, especialmente a tributária, com a unificação de alguns impostos”, afirma Alexandre.
“Em 2021, entrará no ar Loja Rcell, plataforma B2B, que levará nossos produtos às regiões mais remotas do País.”
O câmbio mais baixo e menos volátil favoreceria a importação e a exportação diz Alexandre. “Com ele volátil e o real desvalorizado, o risco de ficar no vermelho é gigante nas operações em que o distribuidor importa diretamente, caso dos produtos de marca própria e consoles de videogame, uma vez que há enorme gap entre o cash advanced e os recebíveis por parte do varejista. Nos itens importados diretamente pela indústria, como os smartphones, o impacto é menor.”
TRUST
A empresa se prepara para crescer e superar os resultados de 2020, os quais já foram excelentes, conta o country manager Brasil. “Com o avanço da vacinação contra a Covid-19, o ano de 2021 será de recuperação econômica. Esperamos que o dólar recue para um nível muito mais baixo e permita que os produtos importados cheguem ao consumidor com preço mais acessível.”
O dólar é um dos principais fatores que a empresa considera para o seu negócio, porque é ele que determina o preço de venda. “Sua instabilidade provoca estratégias mais conservadoras, e nossos distribuidores procuram fazer importações com estoques de curto prazo para evitar prejuízos. O mais importante é que o valor alto da moeda acarreta aumento de preços, e isso prejudica o resultado das vendas”, diz Rafael.
“A empresa se prepara para crescer e superar os resultados de 2020.”
Este ano, lança acessórios para as novas gerações de consoles, PlayStation 5 e XBOX Series, com design moderno, qualidade e preço acessível. “Com a tendência do home office, também vamos reforçar o catálogo no Brasil de webcams, mouses, microfones, teclados, headsets e mobiliário de escritório”, conta Rafael. Dentro do plano de expansão, mudará para um espaço maior, garantindo melhores condições para a operação.
TS SHARA
A empresa espera bom desempenho nas vendas em 2021, diz o CEO. “Nossas soluções são essenciais às áreas de tele-comunicações, provedores de internet, saúde/hospitalar, e-commerce, logística e sistemas de segurança empresarial e residencial. A expectativa é crescer cerca de 10% em relação a 2020.” Neste ano, a empresa espera avanços nas reformas administrativa e tributária.
Mesmo com a pandemia, as vendas de eletrodomésticos se mantiveram aquecidas em 2020, lembra Pedro. “Especialmente pela adesão em massa ao comércio eletrônico, atingindo outros nichos de mercado e aumentando o tíquete de venda. O próximo passo será buscar as maneiras mais eficazes de interação com os clientes para garantir que as demandas sejam atendidas e todo o ciclo de vendas seja colocado em prática, sem deixar cair a qualidade do atendimento.”
Uma adversidade que marcou 2020 foi a constante oscilação do dólar, afirma Pedro. Isso acabou afetando a correção de preços e a importação dos insumos para manter a produção, cenário que não era visto nos últimos 19 anos. “Procuramos nos manter criativos para definir as estratégias de médio e longo prazos para alcançar as metas e atender os mais variados nichos que precisavam de energia segura e ininterrupta.”
“A expectativa da empresa é crescer 10% em relação a 2020.”
USINA DE VENDAS
A empresa cresce em ritmo acelerado desde a entrada no mercado de distribuição de smartphones, em 2017, diz o presidente. “Entendemos que ainda há espaço para crescer. Por isso, nossa expectativa para 2021 é continuar a expansão, mesmo com o cenário de pandemia. É preciso acelerar a vacinação para a população ficar segura e, assim, evitarmos novos lockdowns, o que ainda assombra o varejo.”
Para Marco Antonio, o Brasil precisa, urgentemente, de reformas, como a tributária, para se desenvolver em todas as esferas. “O dólar alto, por sua vez, encarece os produtos de tecnologia, pois, mesmo produzidos localmente, a maior parte dos insumos vem de fora. Somos afetados de forma sistêmica, a variação cambial corrói e diminui o mercado e as oportunidades de negócios.”
“Nossa expectativa é continuar a expansão em 2021, mesmo com o cenário de pandemia.”
Em 2021, segundo o presidente, o plano é reforçar a parceria com a TCL Mobile, de quem a empresa é distribuidora oficial no Brasil. “Já inserimos seis modelos de smartphones no mercado e, neste semestre, vamos lançar uma família de tablets para os segmentos de educação e corporativo. Paralelamente, manteremos o foco no incremento das vendas nos canais alternativos da linha de wearables Samsung, de quem somos parceiros oficiais na distribuição”, conta Marco Antonio.
XTRAD
2020 trouxe desafios, diz o analista. “Enfrentamos dificuldades nas importações, restrições na economia e desaceleração do mercado. Mas serviram para enxergarmos o mercado de modo diferente e focarmos no que é melhor para o consumidor.”
A empresa confia na recuperação da economia. “O consumidor está consciente e procura maior valor nos bens que adquire. Estamos focados nesse perfil para aumentar o faturamento por valor agregado”, afirma Fábio.
“Em 2021, as grandes novidades serão em home audio e personal audio.”
Em 2021, a empresa espera melhor política cambial. Em lançamentos, as grandes novidades serão em home audio e personal audio, com caixas de som e fones de ouvido. “Também voltamos nossa atenção ao mercado de games”, conta Fábio.
Fonte: Revista Eletrolar News – Edição 141