Como ganhar a geração Z?
por Leda Cavalcanti e Dilnara Titara
Formada pelos nascidos entre 1996 e 2010, que hoje representam 28% da população global, a geração Z é objeto de estudos por parte de especialistas e de atenção das empresas que buscam fidelizar esse grupo nativo digital. “São jovens que nasceram já com a internet, estão sempre conectados, acostumados com o e-commerce e que pesquisam os preços. É no consumo que estão as grandes diferenças. Como têm familiaridade com a internet, são desconfiados da propagada tradicional”, diz Maurício Morgado, coordenador do Centro de Excelência em Varejo da Fundação Getulio Vargas (FGV EAESP).
Diferenças entre as gerações sempre existiram, é fato, e todas estão hoje ligadas às redes sociais. “Não é um privilégio apenas da geração Z. O que muda é a rede com a qual estão mais conectados. O que essa geração tem é preocupação social e ambiental, ela é menos preconceituosa que a anterior, é melhor e está preocupada com o legado das empresas com as quais se relaciona. Quer que elas resolvam os problemas e não façam discriminação de forma alguma. É uma proposta importante”, afirma Maurício.
Imediatismo e falta de paciência são características dessa geração, acrescenta o professor. “Em vez de pesquisar, seus integrantes querem respostas rápidas para os problemas, preferencialmente personalizadas. No caso de eletrodomésticos, preferem um vídeo aos extensos manuais. Atuam em todos os canais, não querem dar mil vezes o mesmo CPF nem precisar falar com o SAC. Portanto, as empresas têm que estar preparadas e colocar velocidade na comunicação. Algumas estão fazendo isso, outras não, e um entrave, no caso, é o fato de serem comandadas por uma geração que não prioriza o jeito de atender e vender.”
“É uma geração menos preconceituosa que a anterior, é melhor e está preocupada com o legado das empresas com as quais se relaciona.”
Tecnologia em 1º lugar
Fazer parte da geração Z é sinônimo de inovação e tecnologia a todo vapor, diz Diego Oliveira, professor de mídia da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) e CEO e sócio-fundador da Youpper Insights. “Ela ganhou mais espaço na mídia, nos últimos anos, devido a características fortes. Está por dentro de todas as novidades tecnológicas, engajada em causas sociais e em busca de mudanças de trabalho. Devido às incertezas com política e covid, por exemplo, se tornou mais impaciente, o que pode fazer com que se envolva mais com as redes sociais para publicizar suas opiniões.”
Na pandemia, fez uso constante e excessivo das plataformas digitais, consumiu lives e reality shows, gastou mais que no período pré-covid e se envolveu com novas marcas. “De acordo com a pesquisa da Youpper Insights, 90% de seus integrantes conheceram novas marcas através das redes sociais. Isso demonstra o quanto estão atentos e abertos. Essa geração sente prazer em postar as marcas que trazem alguma mensagem social e orgulha-se de indicar e incentivar os outros a fazerem o mesmo, tudo isso pelas redes sociais”, conta Diego.
“É preciso criar uma linguagem que tenha mais a cara dessa geração. Seria interessante as empresas terem um conselho de jovens para entender uma geração criada com mais fontes de informação.”
Os atributos mais relevantes no relacionamento da geração Z com as marcas são clareza, objetividade, transparência e passar qualidade, explica Diego. “Manter o relacionamento com esse consumidor requer agilidade e entrega correta do que é prometido pelas marcas nas campanhas. Seus integrantes são realistas, competitivos e independentes. Sentem necessidade de expor suas opiniões e se arriscam. Valorizam ações criativas e a consciência coletiva. São considerados mobile social media natives, os primeiros nativos digitais.”
“Essa geração sente prazer em postar as marcas que trazem alguma mensagem social e orgulha-se de indicar e incentivar os outros a fazerem o mesmo, tudo isso pelas redes sociais.”
Sem vínculos
Até a chegada da internet, o conhecimento era passado de cima para baixo, ou seja, o chefe falava, e o funcionário cumpria. Havia poucas fontes de aprendizado, diz Dado Schneider, doutor em comunicação pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC/RS), pesquisador e especialista na geração Z. “Pesquisava-se em bibliotecas, as fontes eram poucas e controláveis. A internet revolucionou tudo isso, trouxe a agenda da diversidade, o compartilhamento e a preocupação ambiental. Os jovens da geração Z trocam informações entre si e não necessariamente querem aprender com pessoas mais velhas. O impacto da mudança é semelhante ao provocado pela revolução industrial.”
A era é de comunicação acelerada em todas as áreas. “As marcas, há mais de 15 anos, não entenderam a geração Z, que compartilha tudo e quer a verdade. Ela não dá importância às marcas, trocam-nas facilmente, sem qualquer vínculo, diferentemente de outras gerações, que aceitavam até um mau atendimento por falta de opção. Agora, ninguém é de ninguém. Não é fácil gerir uma marca, e muitas estão fazendo um esforço para rejuvenescer a imagem, mas em alguns casos o olhar é de velhos achando que estão sendo jovens”, explica Dado.
Disponibilidade é o mais importante para uma marca, já que, com um clique, os jovens podem procurar outra. “Da marca, exigem diversidade, respostas e entregas rápidas. Eles são ditatoriais no processo de compra e chegam a influenciar a família. Nesse cenário, é preciso criar uma linguagem que tenha mais a cara dessa geração, que compartilha tudo, de informação a sentimentos. É um outro jeito de ser. Seria interessante as empresas terem um conselho de jovens para entender uma geração criada com mais fontes de informação e para não ter vínculos.”
Fonte: Eletrolar News #146