Caderno Eletrocar – O FUTURO DO TRANSPORTE É ELÉTRICO
Esta é uma opinião unânime no setor. A Associação Brasileira de Veículos Elétricos (ABVE) espera um aumento expressivo da participação dos seus associados na economia brasileira em 2025. Só as vendas de veículos devem chegar a 240 mil unidades, com crescimento de 45%.
por Joel Leite
É natural que as novidades provoquem dúvidas no consumidor, como está acontecendo com o carro elétrico no Brasil. Dúvidas, muitas vezes, estimuladas por oportunistas que questionam a tecnologia e polemizam, criando factoides com o objetivo de ampliar a sua audiência nas mídias sociais, ou por falta de informação ou, ainda, por motivos menos nobres.
Como todo pioneirismo, o carro elétrico provoca dúvidas e questionamentos. Foi assim também quando surgiram outras novidades:
– Em 1979, quando chegou o carro a álcool: “Vamos usar terras nobres para produzir comida pro carro.”
– Em 1993, quando foi lançado o carro popular, com motor 1.0: “Motorzinho de geladeira…”
– Em 2003, com o motor flex: “O motor flex é como o pato: anda, voa e nada, mas não faz nada direito.”
Superado o período inicial, graças ao pioneirismo de uma boa leva de consumidores, todas essas tecnologias se mostraram viáveis e, mais ainda, importantíssimas para o desenvolvimento da indústria de veículos automotores.
O mesmo acontece hoje com a eletrificação da mobilidade, com a diferença de que se trata de uma tecnologia já testada e aprovada nos maiores mercados do mundo. E inquestionável em relação à sua oportunidade neste momento em que o mundo busca alternativas ao petróleo, para a redução – ou a eliminação total – das emissões de CO2 na atmosfera, única forma de diminuir o aquecimento das calotas polares e proporcionar a salvação do planeta.
Marcelo Godoy, presidente da Associação de Importadores e Fabricantes de Veículos (ABEIFA), está preocupado com a desinformação disseminada no mercado e considera que é necessário educar os consumidores para o uso da tecnologia.
É claro que o dono do carro elétrico não tem à disposição uma rede de eletropostos equivalente à oferecida ao consumidor do carro a combustão. A infraestrutura de abastecimento ainda é incipiente para atender longas distâncias.
No entanto, são falsos alguns questionamentos em relação à dificuldade de abastecimento. Vejamos: a autonomia de muitos carros elétricos se equivale à do carro a gasolina: 400, 500 quilômetros. Qual é o período em que o dono do carro a combustão vai ao posto encher o tanque? Uma vez por semana, não mais do que isso. O mesmo ocorre com o dono do carro elétrico: rodando entre 20 e 30 km por dia (distância média de quem o utiliza na cidade), basta um carregamento por semana, ou seja, as recargas podem ser menos frequentes do que a propalada por quem critica a escassez da rede de eletropostos. O carro elétrico traz ainda uma vantagem em relação ao carro a combustão, pois a carga pode ser completada todos os dias na garagem de casa.
Aplicativos que indicam a rede de eletropostos ajudam o usuário a planejar a viagem, caso o objetivo seja rodar, no mesmo dia, uma distância maior do que a capacidade da bateria. Além da localização, eles informam qual o tipo do eletroposto: se é de carga rápida, ou ultrarrápida, capaz de carregar a bateria em um curto espaço de tempo. Informam também a disponibilidade e se o equipamento está em condições de funcionamento naquele momento.
A tecnologia está disponível e a cada dia fica mais fácil o uso do carro elétrico. O que falta é informação. O crescimento expressivo de vendas de carros eletrificados, neste ano, indica que em breve o mercado vai se adequar à nova tecnologia.
Líder do segmento, a chinesa BYD deve fechar o ano com mais de 70 mil unidades (e 42% de participação no segmento), distribuídas entre os 13 modelos, todos trazendo alta tecnologia e preços competitivos.
BYD, a líder dos eletrificados
De história recente na China (nasceu em 1995), a BYD se tornou rapidamente um dos maiores fabricantes de veículos elétricos e baterias do mundo. Oferece soluções completas para mobilidade elétrica: geração de energia, armazenamento e aplicação. Foi a primeira montadora a interromper a produção de veículos movidos a combustíveis fósseis, concentrando-se no desenvolvimento de veículos elétricos e híbridos plug-in.
A empresa domina as principais tecnologias de toda a cadeia industrial de veículos de nova energia, como baterias, motores elétricos, controladores eletrônicos e semicondutores automotivos. Líder global de vendas de ônibus elétricos, já entregou mais de 70 mil unidades pelo mundo e lançou no mercado mundial a bateria Blade, que redefiniu o padrão de segurança da nova energia e se tornou referência em segurança.
Com produção de chassis de ônibus elétricos, a BYD iniciou sua operação no Brasil em 2015, em Campinas (SP), para atender os municípios interessados em substituir a frota de veículos urbanos movidos a combustão por energia limpa. Com custos de operação mais baixos, autonomia entre 250 e 300 quilômetros e recarga entre três a quatro horas, os veículos conquistaram o mercado.
A empresa passou também a produzir painéis solares fotovoltaicos, módulos fotovoltaicos de última geração e alta tecnologia e baterias do tipo fosfato de ferro-lítio, que são mais seguras. Antes de decidir pela produção de carros de passeio, ao comprar a antiga fábrica da Ford em Camaçari, na Bahia, a empresa já contava com duas unidades fabris no Brasil: Campinas, com a produção de chassis para ônibus e painéis solares, e em Manaus (AM), com a produção de baterias.
A invasão de tecnologia
A importação de carros começou em 2020, com a chegada do SUV TAN EV, e colocando o elétrico puro numa rede de concessionárias formada pelos 20 principais grupos automotivos do mercado brasileiro. A partir daí, a montadora iniciou um ritmo frenético de lançamentos, o que levou os fabricantes brasileiros a solicitarem ao governo a antecipação da aplicação da alíquota de importação, de 35%. O pleito não foi atendido, mas a indústria local continua assustada com o que chama de “invasão chinesa”, ou seja, a participação ousada das marcas daquele país no Brasil, capitaneadas pela BYD, mas contemplada com outras marcas, como a GWM, e também Chery, JAC, Geely e Neta.
Em abril de 2022, a BYD iniciou as vendas do sedã esportivo HAN EV, trazendo soluções inovadoras em tecnologia e segurança. A empresa chegou com um diferencial importante, oferecendo aos compradores a infraestrutura para a captação da energia necessária para o abastecimento dos seus veículos, com a instalação de painéis solares, que, de quebra, forneceria energia elétrica para o uso na residência, com o proprietário livrando-se dos custos da energia fornecida pela distribuidora local. E, com o lançamento do Dolphin Mini, o consumidor passou a ter, ainda, um carregador portável.
No ano passado, a BYD deu início ao projeto para a construção do Complexo Industrial de Camaçari, na Bahia, onde vai instalar a primeira fábrica de carros fora da Ásia.
Família BYD
A linha de produtos da BYD é uma das mais completas entre as marcas que atuam no Brasil, sejam fabricantes, sejam importadoras. São 13 modelos entre compactos, SUV, sedãs e picape, híbridos, plug-in e elétricos puros.
Tan EV: SUV elétrico puro de sete lugares, com potência de 108,8 kWh e autonomia de 430 km a 530 km.
Han EV: Sedã 100% elétrico, potência de 494 cv, tração 4×4 e autonomia de 500 km.
Dolphin: Hatch compacto, motor de 95 cv e autonomia de 291 km.
Dolphin Mini: Carro de entrada, é o elétrico mais vendido no mercado brasileiro. Tem autonomia de 280 km.
Dolphin Plus: Com bateria de 60,48 kWh, possui autonomia de 427 km.
Yuan Plus: SUV compacto elétrico, motor de 201 cv e autonomia de 294 km.
King: Sedã híbrido, um motor 1.5 a gasolina e um elétrico que geram juntos 235 cavalos.
Picape Shark: Híbrida plugável, motor a gasolina turbo 1.5 de 183 cv e dois elétricos que somam 435 cv.
Seal: Sport Coupé, 100% elétrico de 531 cv e autonomia de 372 km.
Yuan Pro: SUV 100% elétrico, com 177 cv e autonomia de 250 km.
Song Pro: SUV Híbrido Plug-in, com potência combinada de 223 cv.
Song Plus: SUV Híbrido Plug-in, com potência combinada de 235 cv.
Song Plus Premium: SUV Híbrido Plug-in, autonomia combinada de até 950 km e potência de 350 cv.
Eletrificação chega aos pesados
O principal argumento de quem põe dificuldade na implantação da mobilidade elétrica é a dificuldade de carregamento das baterias, por causa da infraestrutura de eletropostos, que não atenderia às necessidades dos percursos de longas distâncias, o que deixaria fora o transporte rodoviário.
Mas o que se viu neste ano foi uma grande investida das empresas de veículos comerciais na eletrificação, inclusive no segmento dos pesados. Volvo, DAF, Volkswagen, Iveco, Mercedes-Benz, Scania, Ford e a chinesa XCMG estão trazendo ao Brasil, para teste ou mesmo para venda imediata, opções para uma mobilidade sustentável, sendo a eletricidade a alternativa mais plausível. Executivos do setor são unânimes em afirmar: “o futuro do transporte é elétrico.”
A Volkswagen já tem uma linha elétrica desde 2021 fabricada no Brasil, e a Iveco saboreia o sucesso do e-Daily, a opção preferida por empresas de transporte urbano de carga que optaram pelo uso da mobilidade elétrica.
A Mercedes-Benz trouxe dois caminhões para avaliar as condições de uso nas estradas brasileiras, o e-Actros, que já roda na Europa, e o Canter, um urbano de oito toneladas de capacidade. O caminhão 30G, outro pesado, este sim já está disponível para venda, é a opção da Scania. O 30G é um elétrico puro destinado a aplicações regionais, para médias distâncias.
Já a chinesa XCMG (que atua no Brasil há 20 anos com máquinas pesadas) está substituindo as tradicionais máquinas movidas a diesel pela tecnologia elétrica. A rede de concessionárias comercializa caminhões elétricos de 10 a 80 toneladas: o E3-10T (R$ 450 mil), o E7-18T (R$ 1,2 milhão) e o E7-80T (R$ 1,5 milhão).
E a DAF oferece ao consumidor o CF, um caminhão pesado elétrico puro com 480 cv de potência e 500 km de autonomia, e está testando um driveline elétrico, que equipa um caminhão na Europa, com potência de 350 kW, autonomia de até 500 km e baterias de 525 kWh. É um pesado, com capacidade para 50 toneladas.
Expectativa de grande crescimento
Como se vê, o mundo da eletrificação não se resume a carros de passeio, ao contrário, as demais categorias, outros modais e toda a cadeia do setor está em franca expansão.
A expectativa de Ricardo Bastos, presidente da Associação Brasileira de Veículos Elétricos (ABVE), é de um aumento expressivo da participação dos seus associados na economia brasileira em 2025. Só as vendas de veículos devem chegar a 240 mil unidades, com crescimento de 45%.
“O mercado deve continuar forte, não só para os eletrificados, mas para toda a indústria, o que é muito bom para o Brasil”, diz o dirigente, lembrando que a partir do próximo ano o País vai ter a produção de um modelo plug-in, além da chegada de novas empresas e de novas tecnologias.
O dirigente lembra, ainda, que 2025 será o ano da infraestrutura. “Outro ponto que deve também ter uma atenção especial no próximo ano é o mercado de pontos de recarga”, disse. Segundo ele, a infraestrutura deve acompanhar o crescimento das vendas, gerando muitos negócios.
“Muitas empresas que hoje estão fazendo a instalação de carregadores já estão usando carregadores rápidos. A expectativa é que a infraestrutura cresça de forma a atender o aumento das vendas de veículos”, diz o presidente da ABVE, destacando que novas empresas estão iniciando operação no Brasil, ampliando as oportunidades na mobilidade elétrica para o consumidor.
Neta inicia venda do Aya e do X
A Neta é a mais nova marca de carros de passeio a apresentar seus modelos no mercado brasileiro. Ainda neste ano, começam a ser vendidos os modelos AYA e X, ambos elétricos puros, que já podem ser adquiridos na pré-venda. A empresa montou pontos de venda em shoppings centers nos estados de São Paulo, Rio Grande do Sul, Paraíba, Ceará e Espírito Santo.
O Neta AYA é um SUV com motor elétrico de 70 kW (95 cv), alcança 338 km (WLTP) ou 263 km pelo Inmetro. Chega nas versões Comfort (R$ 128.900,00) e Luxury (R$ 134.900,00).
O Neta X é também um SUV, maior, de porte médio, tração dianteira, potência máxima de 163 cv (120 kW). Tem duas opções de bateria: a primeira equipa a versão 400, tem capacidade de 52,49 kW/h, permitindo percorrer 323 km (WLTP). A segunda (versões 500 e 500 Luxury) tem capacidade de 64,14 kW/h, elevando o alcance do veículo para 410 km (WLTP) ou 317 km (PBEV). Custa de R$ 194.900,00 a R$ 214.900,00.
Fonte: Revista Eletrolar News ed. 164