BOAS PERSPECTIVAS DE VENDAS PARA A LINHA BRANCA E AIR FRYERS
Queda na taxa de juros e aumento do número de empregos vão estimular as vendas em 2024.
por Leda Cavalcanti
O ano de 2024 parece promissor, especificamente no Brasil. Há muita demanda reprimida, e a tendência de premiunização dos produtos é irreversível, mesmo que, por vezes, o poder de compra do consumidor impeça a concretização do negócio. Por isso, as diferentes ofertas para os públicos-alvo devem ser segmentadas para estimular o consumo. “Neste ano, será fundamental comunicar e ativar os consumidores ao longo da jornada de compra”, diz, nesta entrevista, Fernando Baialuna, diretor de varejo e consultoria da GfK, uma empresa Niq.
2024 será um bom ano para o setor de eletros?
Fernando Baialuna – Globalmente, há otimismo por parte da indústria e dos especialistas no setor de T&D (eletroeletrônicos) para que 2024 seja positivo, após dois anos de retração de mercado em muitos países. No Brasil, especificamente, assistimos a um processo contínuo de melhoria das condições para fomentar o consumo: a queda da taxa de juros e o aumento do número de posições ocupadas, por exemplo, são dois aspectos importantes para estimular as vendas.
O consumidor endividado não está receoso?
FB – Dado o nível de endividamento das famílias, as ofertas parceladas para financiar o consumidor e a oferta de produtos com bom custo-benefício seguem como elementos determinantes para ampliar o consumo, principalmente nas classes C e D. Categorias tradicionais como TVs, computadores e smartphones sofreram mais por razões específicas. Não por acaso, essas três categorias apresentam altos níveis de demanda reprimida e são as grandes incógnitas para 2024. O foco na comunicação e a oferta direcionada dos produtos premium e dos premium com bom custo-benefício, bem como o parcelamento a prazo crescente com a queda de juros, são elementos decisivos para a recuperação das vendas.
A tendência da premiunização se mantém em 2024?
FB – Sem dúvida, é uma tendência que continua em 2024. É um movimento irreversível, mas que deve ser observado à luz do poder de compra dos consumidores no curto prazo. O desejo por upgrade é presente, porém o orçamento restringe. Nesse contexto, as diferentes ofertas para os diferentes consumidores-alvo devem ser segmentadas para estimular o consumo nas diferentes audiências. O premium e o premium com bom custo-benefício atenderão a diferentes públicos, necessidades e conceitualizações de premium. Será fundamental comunicar e ativar assertivamente os públicos-alvo ao longo da jornada de compra.
Quais categorias deverão ter a preferência do consumidor?
FB – Algumas categorias de SDA (eletroportáteis) e MDA (linha branca) serão favorecidas por diferentes circunstâncias. Exemplos práticos de categorias com boas perspectivas como MDA são os aparelhos de ar-condicionado, lavadoras e refrigeradores, além das air fryers, que podem crescer através da necessidade de troca e adaptação. Ar-condicionado e refrigeradores como reflexo do calor em 2023, o mais quente da história no mundo; lavadoras respondendo à demanda reprimida após dois anos de vendas moderadas no Brasil. E as air fryers, pela adaptação dos lares e formatos para as novas gerações, por exemplo.
E o segmento gamer?
FB – Outras categorias, como gaming, também seguem uma tendência de crescimento com a ampliação da base de consumidores nesse mercado, além do efeito de premiunização, com o lançamento recente de novos consoles e acessórios.
As vendas deverão crescer mais no varejo físico ou no online?
FB – Após dois anos do fim da pandemia, observamos a retomada do varejo físico e uma reorganização de forças entre ele e o online. Houve recuperação das vendas em lojas físicas. Vejo um cenário que aponta para a manutenção do equilíbrio do peso atual entre os canais. Será essencial reforçar a mídia no canal online, primando pela jornada de compra do consumidor e sua integração entre o físico e o online, de acordo com o perfil da categoria. Devemos mudar a visão de “segmentação dos canais” para “segmentação das jornadas” para os mais diversos produtos. E, sempre, atendendo às características comerciais dessas jornadas.
Para o setor de eletros, quais são os maiores desafios de 2024?
FB – São desafios positivos, alguns históricos e outros recentes. Ainda necessitamos, por exemplo, otimizar investimentos em mídia através dos varejos como plataforma de comunicação, caso do retail media. Segmentar os públicos-alvo, comunicar e ativar o trade mais assertivamente para as diferentes audiências é a resposta para essa otimização necessária. A digitalização das lojas físicas em novos formatos é uma mudança gradativa e que segue para aumentar a integração do físico e do online nas diferentes jornadas de compra, racionalizando os custos de estoque com o ajuste do mix de produtos, por exemplo. Inevitavelmente, teremos um formato menor de lojas, mais digitalizadas e com a integração das experiências dos ambientes físico e digital.
A inteligência artificial será importante nessa jornada?
FB – A inteligência artificial permeia todos esses desafios, isso é um fato. Mas o que quero realçar sobre IA, num primeiro momento, é o poder de finalmente entregar customização em escala para personificar a comunicação e ativação dos consumidores-alvo. Em resumo, a integração da IA em sistemas de CRM ampliará o alcance das interações mais personalizadas, trará maior eficiência operacional, tomada de decisões e, em última análise, maior satisfação e fidelidade do cliente.
Varejo e indústria precisam ser mais unidos?
FB – Minha visão pessoal, que reitero nos últimos anos, é a necessidade do estreitamento da parceria entre indústria e varejo no setor de eletroeletrônicos, o JBP (joint business plan). Com a sofisticação das jornadas de compra e com o final da segmentação dos canais, os meios se tornam mais complexos. Por exemplo, um calendário promocional mais colaborativo pode trazer ganhos na cadeia e rentabilização das operações. Um calendário de promoções coordenado entre varejo e indústria para os eventos ao longo do ano, nos diversos canais, pode trazer melhores resultados de venda. Isso evita ofertas que se canibalizem entre os canais, caso do D2C versus os canais tradicionais de varejo.
Qual o balanço que o senhor faz de 2023?
FB – 2023 foi um ano difícil, de muitos esforços e otimizações para entregar resultados num mercado que perdeu valor no tíquete médio, ou seja, produtos de entrada e mais acessíveis prevaleceram sobre os mais sofisticados e premium. Diante dos resultados, vale destacar a retomada da força dos varejos regionais no canal físico, não só como um exemplo de resiliência, mas também da importância da visão de uma distribuição mais horizontalizada, desde que com o mix e políticas comerciais ajustadas. Air fryers, consoles, ar-condicionado, ventiladores e refrigeradores foram os destaques, atendendoa um consumo racionalizado e seletivo para um consumidor com o poder de compra reduzido.
Fonte: Eletrolar News Ed. 159 – Especial Presidentes