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Bitcoin, a rainha das criptomoedas
Atualmente, a bitcoin é a criptomoeda mais famosa do mundo. O ativo foi criado em 2008 com o objetivo de ser uma solução para a crise financeira enfrentada em países da Europa e nos Estados Unidos. Na época, o mundo passava pela maior recessão econômica desde a Grande Depressão, devido ao estouro de uma bolha imobiliária nos Estados Unidos. O mercado acionário foi duramente afetado, e novamente o sistema financeiro tradicional entrou em colapso.
Os primeiros registros da criptomoeda aconteceram em meados de 2008, quando um usuário chamado Satoshi Nakamoto, pseudônimo usado pelo autor ou autores da moeda – até hoje ninguém sabe ao certo a identidade dessa(s) pessoa(s) –, publicou em um fórum o arquivo “Bitcoin: A Peer-to-Peer Electronic Cash System”. Satoshi não só inventou uma forma nova de pagamento como também inventou a tecnologia blockchain, que serve de suporte para que as operações com a criptomoeda ocorram. A blockchain também é base para diversos outros tipos de criptoativos.
Em janeiro de 2009, houve o primeiro registro de mineração, o tal processo que gera novos bitcoins e que explicaremos melhor abaixo. Nesse mesmo ano, o site Bitcoin.org foi registrado de forma anônima, e o projeto foi lançado também no Sourceforge.net, plataforma para distribuição e desenvolvimento de softwares open-source.
No início daquele ano, foi lançada a versão Bitcoin 0.1 e, no seu final, a segunda versão, a Bitcoin 0.2. O ano de 2009 marcou também a primeira transação de moedas feita na história da bitcoin, entre Nakamoto e Hal Finney. A taxa de câmbio entre a criptomoeda e o dólar foi estabelecida pelo New Liberty Standard como US$ 1 = BTC 1.309,03.
Em julho de 2010, a versão Bitcoin 0.3 foi lançada e, em novembro, o valor total negociado no mercado ultrapassou US$ 1 milhão. Em 2010, o mercado da criptomoeda já estava estabelecido e era possível comprar e vender bitcoins. A primeira compra real de um produto com a moeda virtual foi feita na Flórida e consistiu nada mais nada menos do que na compra de uma pizza.
Um ano depois, um australiano colocou à venda o seu carro por 3 mil bitcoins e pela primeira vez a moeda virtual alcançou a paridade com o dólar. Daí em diante o crescimento foi vertiginoso. Em 2013, ano do lançamento da versão 0.8, o valor total de mercado da bitcoin ultrapassou US$ 1 bilhão e em San Diego, no estado norte-americano da Califórnia, foi instalado o primeiro ATM para a criptomoeda.
Outro lado da moeda
Apesar de sua rápida popularização e crescimento acelerado, a história da bitcoin teve fatos complicados. Em 2011, foi lançado o Silk Road, um mercado de bitcoins para negociação de drogas e produtos ilícitos dentro das camadas mais profundas da internet, a dark web. Esse mercado paralelo foi fechado em 2013, mas um relatório do FBI vazado em 2012 ressaltava preocupações com o uso da moeda na compra de armas e narcóticos.
Outro grande problema enfrentado foi o veto do Banco Central da China, em 2013, para que as instituições daquele país realizassem transações com bitcoins. Aliás, recentemente, em setembro de 2021, o país declarou ilegais as transações, a mineração e até a publicidade da bitcoin por lá. O veto em si, anunciado pelo Banco Popular da China (banco central) e uma dezena de agências governamentais, não é inteiramente novo, mas enfatiza o alcance da restrição, agora maior do que em proibições anteriores.
Como funciona
O maior diferencial da bitcoin é que se trata de uma moeda limitada. Apenas 21 milhões de moedas podem ser emitidas no mundo. Ela foi projetada em torno do princípio de uma oferta finita, definida sobre um limite máximo fixo de quantas bitcoin podem existir.
A ideia de Satoshi era que, ao limitar sua oferta máxima e diminuir a taxa em que novas bitcoins são criadas, cada unidade se valorizasse ao longo do tempo. De acordo com um e-mail supostamente compartilhado entre Nakamoto e Mike Hearn, contribuidor do Bitcoin Core, Satoshi argumentou que se 21 milhões de moedas fossem usadas por alguma fração da economia mundial, 0,001 BTC (1 mBTC) poderia valer cerca de 1 euro. Essa previsão se tornou realidade em 2013, quando a bitcoin ultrapassou esse patamar.
“Bitcoin é o melhor experimento de oferta e demanda. É um ativo intercambiável, pode comprar em um lugar e vender em outro, dá para explorar diferença de preço, a arbitragem, não tem fricção, não tem logística e é barata a transferência”, diz Fabrício Tota, do Mercado Bitcoin. “Hoje, cerca de 18 milhões e 200 mil já foram emitidos e estão em circulação, sendo que 30% foram perdidos/extraviados ao longo do tempo. Acredita-se que chegaremos ao limite em 2040″, explica.
Obtenção e mineração
Assim como nas demais criptomoedas, para se obter uma bitcoin existem três maneiras: comprando de alguém, via direta ou via plataforma; comprando em uma exchange ou minerando. A mineração, no entanto, não é mais uma atividade simples como já foi nos primórdios da criptomoeda.
“Mineração virou uma atividade profissionalizada, precisa de uma infraestrutura muito grande para começar a ser relevante. Você também precisa ter acesso à energia barata e um investimento inicial significativo. Hoje, existem empresas de mineração listadas em bolsa, para se ter ideia do tamanho do negócio”, conta Fabrício.
No ecossistema de criptografia, usa-se o termo “mineração” para se referir ao processo de validação de transações em uma blockchain, o que também gera uma recompensa para quem o realiza. Embora essa atividade seja conhecida por esse nome, ela não envolve nenhum tipo de extração de materiais da terra ou das rochas. Em vez disso, é uma forma de rodar um programa, um esforço de computação. O termo tem sua origem na validação de transações bitcoin.
Segundo Bernardo Teixeira, CFO da BitcoinTrade, quando a rede da bitcoin foi ao ar, não havia nenhuma moeda criada. Cada unidade de bitcoin, embora existisse “em teoria”, tinha que ser obtida de alguma forma. O termo mineração é uma metáfora coloquial que ilustra que as unidades de bitcoin precisam ser mineradas e eventualmente se esgotarão.
O principal objetivo da mineração, portanto, é estabelecer e criptografar o histórico de transações de forma que seja computacionalmente impraticável adulterá-lo. Embora a mineração tenha começado como uma atividade doméstica, hoje se constitui como uma atividade econômica inteira, da qual participam grandes fazendas de mineração, fabricantes de placas de vídeo e hardware ASIC.
As fazendas de mineração são locais especificamente construídos para a mineração de criptomoedas: estruturas onde se pode minerar em grande escala, que requerem um investimento considerável e ocupam muito espaço físico. Em geral, consistem em dezenas ou centenas de placas gráficas ou processadores ASIC (Application Specific Integrated Circuits, ou seja, circuitos integrados de aplicação específica) configurados para funcionar 24 horas por dia, 7 dias por semana.
Algumas empresas constroem grandes galpões para armazenar os equipamentos, levando em consideração projetos que permitam economia nos custos associados à mineração, como refrigeração ou redução do consumo de energia. Hoje, os mineradores procuram locais com algum tipo de vantagem comparativa. Como o Canadá, onde as baixas temperaturas levam a uma grande economia de energia destinada à refrigeração; ou como o Paraguai, onde a eletricidade é muito barata.
“Sites como Cambridge mostram o mapa de mineração da bitcoin. Atualmente, existe um movimento forte de êxodo de mineradores da China, principal polo global para outros países, como os Estados Unidos, por razões regulatórias. Toda essa mudança acontece em um momento de muita pressão externa sobre os mineradores – e a indústria cripto como um todo – para o uso de energias renováveis para a obtenção de bitcoins. Nessa mudança de país, os pools estão procurando pactuar essas demandas externas, buscando locais que unam energia a custos vantajosos a uma matriz renovável”, comenta Bernardo.
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Regulamentações, regras e tributações
Ainda assim, apesar dos eventuais usos negativos da moeda e dos vetos, a bitcoin foi regularizada na Europa e se expandiu para todo o mundo entre 2009 e 2015. A Bitcoin Foundation é responsável por regular e monitorar os mercados de bitcoin ao redor do mundo. No Brasil, também recentemente, a Câmara dos Deputados aprovou o projeto de lei nº 2.303/15, apresentado pelo deputado Expedito Netto (PSD-RO), que objetiva regulamentar as criptomoedas no país.
Porém o deputado Áureo Ribeiro (Solidariedade-RJ) apresentou um novo esboço, expandido e com mais detalhes, por meio do qual a bitcoin receberia um status legal de “moeda de pagamento” no Brasil. Se o novo projeto de lei for aprovado, a bitcoin receberia um respaldo legal pela primeira vez. O PL não propõe que a criptomoeda seja considerada uma moeda corrente, como o real, embora não esteja claro na proposta o que seria considerado uma “moeda de pagamento”.
“Por aqui os criptoativos ainda não são regulamentados, mas podemos comprar, trocar, vender de forma legal, por meio de uma exchange que trabalha dentro das normas atuais. Para o Banco Central, as criptomoedas não são um ativo financeiro, e a Receita Federal, portanto, as tributa como um bem, como se fosse um carro. Sendo assim, existem regras para declarar as transações feitas com bitcoin e outras moedas digitais no Brasil”, explica Ana Rabello, contadora e especialista em declaração de criptoativos.
Segundo Ana, atualmente há três limites tributários no Brasil. O primeiro é: se um cidadão transacionou valor igual ou superior a R$ 5 mil, ainda que não esteja mais em posse das criptomoedas, ele deve declarar no Imposto de Renda na área de bens e direitos. O segundo: se o cidadão tiver mais de R$ 30 mil mensais de transação fora de uma exchange internacional é obrigado a pagar um tributo dentro do e-CAC da Receita Federal. E o terceiro: se o cidadão tiver mais de R$ 35 mil em vendas de uma criptomoeda deve fazer a apuração do lucro.
“No Brasil, até as exchanges são obrigadas a entregar mensalmente um relatório com todas as transações ocorridas dentro de sua plataforma. Existe uma penalidade de 3% sobre as transações feitas no caso de omissão”, esclarece.
Segurança
A bitcoin é segura por conta da tecnologia blockchain e da criptografia que as chaves proporcionam. A moeda se popularizou pela segurança que oferece, afinal, a mineração não é algo fácil. Pensando ainda na tecnologia blockchain, a bitcoin se torna muito difícil de ser fraudada, já que suas transações são, praticamente, imutáveis.
Como se trata de uma cadeia de blocos que funcionam através de uma rede, mexer em uma transação antiga logo invalidaria todas as posteriores e despertaria imediatamente a atenção de todos os validadores. Ou seja, vale muito mais – pelo mecanismo instituído da recompensa – fazer parte da rede do que querer fraudá-la.
“Satoshi Nakamoto pensou em todos os mínimos detalhes para a construção de uma engrenagem perfeita. A criptomoeda está aí rodando faz mais de 10 anos, e seus fundamentos estão cada vez mais fortes”, comenta Bernardo.
Precificação
Existem vários fatores que influenciam a valorização da moeda digital. Veja aqui quais são eles:
A lei da oferta e procura – Assim como em qualquer mercado, a lei da oferta e demanda interfere no valor da bitcoin. A lógica é simples e foi estrategicamente pensada por Satoshi: a produção de bitcoins é limitada, e o ritmo de mineração da moeda é decrescente. Da mesma forma, a procura pela moeda se modifica de acordo com o período e a situação do mercado. E a valorização ou a desvalorização da moeda se dá, também, a partir dessas oscilações.
A aceitação no mercado – O valor também é influenciado pela sua aceitação nos mercados. Quanto mais negócios aceitarem a bitcoin e grandes instituições usarem a moeda, mais ela se populariza e, como decorrência, se valoriza.
O aumento do número de carteiras digitais – Quanto mais pessoas baixarem os aplicativos e usarem bitcoin, sua cotação pode aumentar devido à procura.
O papel do mercado – Apesar de a bitcoin ser uma moeda independente dos governos, ela não está alheia às leis de mercado. Seu valor também difere conforme a atuação e a situação do panorama financeiro.
Em momentos de crise, por exemplo, com valorização e desvalorização brusca de moedas estrangeiras, a bitcoin pode também sofrer alguma interferência na sua cotação.
“No começo, algumas pessoas compravam bitcoin lá fora e vendiam aqui. Essa negociação foi se sofisticando e começou a circular aqui dentro do Brasil, de acordo com o custo de transações e oferta e demanda. Hoje, profissionais exploram esses preços globalmente e existem até robôs operando ao redor do mundo. Portanto, o preço tende a ficar equilibrado em todas as partes, com pequenas diferenças em função de câmbio e transação”, explica Fabrício. “O mercado de criptomoedas é um mercado pequeno se comparado com outros ativos, sendo avaliado em US$ 2 trilhões. Para se ter ideia, somente a Apple tem um valor de mercado superior. Quando há grandes movimentações de dinheiro em um mercado pequeno, o valor sobe”, completa.
Momento atual e projeções
Em 2020, a bitcoin sofreu a maior valorização da história: 837% em dólar em um período de 12 meses, de acordo com dados da corretora Coinbase. No dia 20 de março de 2020, enquanto o mundo sofria as primeiras consequências da disseminação do novo coronavírus, o criptoativo estava cotado a US$ 6.198,78. Um ano depois, em 19 de março de 2021, a moeda bateu US$ 58.126,10.
O volume de negociações da bitcoin cresceu 603% em 12 meses. Isso, somado à valorização da criptomoeda, impulsionou a capitalização do ativo para atingir a marca recorde de US$ 1 trilhão, um número equivalente à soma do valor de todas as ações negociadas pelo Ibovespa.
Até outubro de 2021, a bitcoin estava valendo pouco mais de US$ 55 mil, e analistas preveem que esse é só o começo. Segundo o CFO da BitcoinTrade, a maior tendência no mercado de criptomoedas é a quantidade e a qualidade do capital humano que está entrando nesse mercado. A cada dia que passa, as melhores mentes e empresas do mercado financeiro e de tecnologia tradicional estão inovando na criação de produtos únicos. Todo esse capital humano está gerando uma revolução que certamente irá transformar várias indústrias além do mercado financeiro tradicional.
Para Fabrício, do Mercado Bitcoin, hoje a tese é de que a bitcoin é mais usada para investimentos e não como moeda corrente. Afinal, para comprar um café com a criptomoeda a pessoa demoraria uns 30 minutos e sairia muito caro. “A bitcoin é uma tecnologia muito nova, que ainda vai se desenvolver bastante no futuro. A bitcoin é como a internet dos anos 90, e muitas oportunidades vão surgir daqui para frente. Tem muita gente entrando nesse mercado e muita gente vai entrar. Tivemos uma onda de clientes no último ano e acreditamos que vai ter um novo boom. É um crescimento do universo de investimentos”, opina.
De acordo com Bernardo, da BitcoinTrade, por ser a criptomoeda mais confiável, a bitcoin será o protocolo fundamental para armazenar poupanças na nova economia digital. “Ela é comprovadamente imutável e escassa, além de ter o maior track record, por isso. No longo prazo tenho uma visão bastante otimista em relação ao futuro da moeda. Vale ressaltar que a moeda deverá continuar sendo volátil e, portanto, deve ser considerada um investimento de alto risco”, finaliza.
Fonte: Eletrolar News #146