PIX: IMPACTO POSITIVO NA GESTÃO DE NEGÓCIOS
Por Leda Cavalcanti e Neusa Japiassu
Criado para ser um meio de pagamento bastante amplo e acessível, o Pix permite que diferentes agentes ofertem o serviço e, com as plataformas centrais sendo providas pelo Banco Central, viabiliza um modelo com menos intermediários. Quaisquer transferências ou pagamentos já são feitos com o Pix, simplesmente com o uso do aparelho celular. O Pix é mais uma opção disponível à população, que convive com os tipos tradicionais de transferências, diz Breno Lobo, chefe de divisão no Departamento de Competição e Estrutura do Mercado Financeiro do Banco Central. “A diferença é que, com ele, não é necessário saber onde a outra pessoa tem conta. Você faz a transferência a partir de um telefone na sua lista de contatos, usando a Chave Pix. Não há limite de horário nem de dia da semana, e os recursos são disponibilizados ao recebedor em poucos segundos. Funciona 24 horas entre quaisquer bancos, de bancos para fintechs e de fintechs para instituições de pagamento.”
As transações de pagamento por meio de boleto exigem a leitura de código de barras, enquanto o Pix pode fazer a leitura de um QR Code. A diferença é que, no Pix, a liquidação é em tempo real. O pagador e o recebedor são notificados a respeito da conclusão da transação e do pagamento. “As transações de pagamento utilizando cartão de débito exigem uso de maquininhas ou instrumento similar. Com o Pix, podem ser iniciadas por meio do telefone celular, sem a necessidade de qualquer outro instrumento. O Pix tende a ter um custo de aceitação menor por sua estrutura ter menos intermediários”, explica Breno.
Segurança do modelo
O Pix foi construído com uma série de mecanismos robustos de segurança. Além de inovar na experiência do usuário, na velocidade e na disponibilidade, adicionou camadas exclusivas para proteção, como marcadores de fraude, e implementou medidas já existentes em outros meios de pagamento.
“As informações das chaves e as transações trafegam por uma rede exclusiva, resiliente e com informações criptografadas, que existe há quase 20 anos no Brasil, na qual trafegam todas as transações de altos valores no País. Além disso, como o principal canal para uso do Pix é o aparelho celular, a autenticação das transações utiliza recursos modernos, como biometria ou reconhecimento facial”, destaca Breno.
De acordo com o Banco Central, conta com “motores antifraude” operados pelas instituições que ofertam o serviço. Eles permitem identificar transações atípicas, fora de perfil do usuário, bloqueando para análise as que são suspeitas por até 30 minutos, durante o dia, ou 60 minutos, à noite, e rejeitando aquelas que não se confirmarem seguras. Possui, em sua base, dados DICT (Diretório de Identificadores de Contas Transacionais), mecanismos de proteção que impedem varreduras das informações pessoais, e conta com “marcadores de fraude”. No caso de suspeita de fraude ou fraude consumada, liga o alerta para todos as instituições participantes do sistema.
O Banco Central recomenda ao varejista sinalizar a aceitação de pagamentos com Pix nos pontos de venda e orientar as equipes sobre esse novo modelo.
As instituições podem estabelecer limites máximos de valores para as transações com base no perfil de cada cliente, período, titularidade da conta, canal de atendimento e procedimento para iniciação. Esses limites se ancoram nos mesmos valores estabelecidos para outros instrumentos de pagamento, como TED e cartão de débito. Assim como os demais meios eletrônicos, o Pix tem transações integralmente rastreáveis, por serem operações de conta a conta. Ou seja, o destinatário de uma transferência financeira em situação de sequestro ou outro meio de coação ilícita é totalmente identificado.
Benefícios do PIX
Para pagadores
- É mais rápido que as transferências de crédito atualmente disponíveis, como TED, DOC e boleto.
- Mais simples de ser iniciado, por demandar apenas o uso do telefone celular (o que, inclusive, evita o toque em qualquer outro dispositivo).
- Mais prático. Possibilita a iniciação pela leitura de um QR Code ou por um clique na lista de contatos. Mais seguro, por permitir autenticação biométrica ou de reconhecimento facial, usando funcionalidades disponíveis no telefone celular.
- Mais barato, por prever gratuidades para a iniciação.
- Notificação de conclusão da transação.
Para recebedores
- Custo de aceitação menor que o dos demais meios eletrônicos (devido à presença de menos intermediários na cadeia de pagamentos).
- Disponibilidade imediata dos recursos, o que tende a diminuir a necessidade de crédito.
- Facilidade de automatização de processos, de conciliação dos pagamentos e de integração de sistemas.
- Facilidade e rapidez no checkout.
- Propício para o comércio eletrônico.
- Notificação de conclusão da transação.
Para a economia brasileira
- Incentivo à eletronização dos meios de pagamento, que têm custos sociais inferiores ao custo social do dinheiro em espécie, aumentando a eficiência da economia.
- A rastreabilidade das transações permite melhor prevenção de lavagem de dinheiro.
- Mais competição no mercado de pagamentos de varejo, o que incentiva a oferta de serviços de melhor qualidade a preços mais baixos, com consequências positivas, inclusive, em outros meios de pagamento.
- Estímulo à entrada de novos agentes, incluindo os de fora do sistema financeiro, o que incentiva a competição.
- Potencial de inclusão financeira, devido a um ambiente com mais ofertantes, que podem explorar nichos de mercado, e a custos menores de iniciação e de aceitação.
Transferências e tarifas
- Não há limite mínimo para pagamentos ou transferências via Pix. Em geral, também não há limite máximo de valores para fazer um Pix. Entretanto, considerando critérios de mitigação de riscos de fraude e de infração à regulação de prevenção à lavagem de dinheiro e ao financiamento do terrorismo, as instituições participantes podem estabelecer limites máximos de valor para iniciação de um Pix, por usuário pagador. Exemplo:
- Por período (dia e horário)
- Por titularidade da conta
- Por canal de atendimento
- Por procedimento para iniciação
Em relação às tarifas, no caso de pessoa jurídica, a instituição detentora da conta do cliente pode cobrá-las em decorrência de envio e de recebimento de recursos, com as finalidades de transferência e de compra. É possível, ainda, a cobrança de tarifa em decorrência da contratação de serviços acessórios relacionados ao envio ou ao recebimento de recursos, com o objetivo de permitir que atividades complementares possam ser oferecidas especificamente às empresas. O modelo de precificação (custo fixo ou percentual) e os valores das tarifas podem ser livremente definidos pelas instituições. Quando do pagamento do Pix na situação de cobrança que se assemelhe ao boleto, o pagador não pode ser tarifado.
Todas as transações ocorrem por meio de mensagens assinadas digitalmente e que trafegam de forma criptografada, em uma rede protegida e apartada da internet. Além disso, no DICT, componente que armazena as informações das chaves Pix, os dados dos usuários também são criptografados e existem mecanismos de proteção. Estes impedem varreduras das informações pessoais, além de indicadores que auxiliam os participantes do ecossistema na prevenção contra fraudes e lavagem de dinheiro.
Prático, rápido e barato
É com essas palavras que Ivo Mósca, coordenador da subcomissão de pagamentos instantâneos e porta-voz do grupo de segurança da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), define o PIX.
“Para os pagadores, é um meio mais rápido, prático e barato para fazer transações financeiras, dispensa o uso de cartão e folha de cheque, por exemplo.
Para o recebedor, a principal vantagem é que o dinheiro é liberado de imediato na conta dele. No comércio, facilita o processo relativo à confirmação de pagamento, seja ele feito diretamente no caixa de uma loja ou em compra via e-commerce. Além disso, tem custo de aceitação menor que o dos demais meios eletrônicos e facilidade para automatização e conciliação dos pagamentos.”
Para o varejo, a redução de custos com intermediários, como adquirente, processador, banco emissor, bandeira de cartão, etc., é uma vantagem, reconhece Alex Lima, CFO da rede Novo Mundo.
“Para o cliente, além da rápida resposta na transação, sem burocracia, apenas utilizando o número do CPF, promove a inclusão bancária dos desbancarizados e o estímulo para transações eletrônicas mais seguras.” Nas lojas, o Pix não muda nada, é uma opção de pagamento que substitui o cartão de débito e reduz o uso de dinheiro em espécie. O Banco Central recomenda ao varejista sinalizar a aceitação de pagamentos com Pix nos pontos de venda e orientar as equipes sobre o novo modelo.
Os dados das transações do Pix transitam criptografados na Rede do Sistema Financeiro Nacional. É uma rede de dados operada pelo Banco Central e extremamente segura e resiliente.
Na opinião de Alex, o Pix beneficia o e-commerce. “Antes, o cliente que optava por pagar via boleto tinha que esperar a compensação bancária, que demorava até quatro a dias. Hoje, em 10 segundos, temos a resposta. Com isso, ganhamos na velocidade do atendimento ao cliente e reduzimos custos na operação.” A rede não vê dificuldades para atender a todas as demandas de meios de pagamentos para seus clientes. “Com um clique, escolhemos a adquirência ou bandeira do cartão. Com o Pix não será diferente”, acrescenta.
Impacto não imediato
Diretor da Rede, empresa de meios de pagamentos do Itaú Unibanco, Rodrigo Carneiro diz que o impacto do Pix sobre outros meios tradicionais não vai ser percebido de imediato.
“O Pix é uma forma democrática de incorporar muitas pessoas que estão à margem desse ecossistema. Paralelamente a ele, boas experiências e propostas de valor preservarão seu espaço. Por isso, acredito que o cartão manterá sua relevância durante muito tempo. Pode haver pequeno rebalanceamento com relação ao débito, com o qual o Pix mais concorre, mas o impacto maior está na utilização do dinheiro em papel. De toda forma, as coisas não serão descontinuadas de uma hora para outra. Tudo é uma evolução que vem com o tempo.”
As instituições podem estabelecer limites máximos de valores para as transações com base no perfil de cada cliente, período, titularidade da conta, canal de atendimento e procedimento para iniciação.
O papel da Rede é fomentar o uso da nova modalidade e se valer de sua expertise, conta Rodrigo. “Como sabemos que quem manda no jogo é o cliente, para nós interessa mais atuar com alto padrão de excelência nesse contexto e estabelecer uma relação de longo prazo com o comerciante – essa é nossa maior alavanca de receita. À medida que o consumidor usar menos o dinheiro em espécie e ampliar o uso do mecanismo de pagamento eletrônico, começaremos a ter visibilidade de fatores que influenciam o negócio. Isso nos dará condições de conhecer melhor nosso público e oferecer serviços de maior valor agregado, com a possibilidade de migrar fontes de receita dentro de uma mesma conta.”
No caso das financeiras, o modelo traz um grande impacto nas transações de pagamento do dia a dia. “Isso é muito importante, pois será o grande teste de confiança e escala do Pix.
Quem souber aproveitar o momento e a tecnologia de forma inteligente nos seus processos de negócio poderá levar uma experiência muito melhor aos seus clientes e, consequentemente, colocar-se em posição diferenciada no mercado”, diz Lucas Thaislo, superintendente de tecnologia e inovação do Banco Semear.
Os dados das transações do Pix transitam criptografados na Rede do Sistema Financeiro Nacional. É uma rede de dados operada pelo Banco Central e extremamente segura e resiliente.
O superintendente lembra que o Banco Central tem um roadmap do Pix que vai muito além dos pagamentos instantâneos e, conforme esse roadmap se consolidar, os players que atuam no financiamento ao varejo precisarão se movimentar, pois os veículos de cobrança e pagamentos serão muito afetados. “Não podemos desconsiderar que há uma parcela de consumidores que pode não adotar o Pix ou fazê-lo de forma tardia. Produtos híbridos podem, então, se tornar uma realidade para bancos e financeiras. Não devemos negligenciar as realidades tão distintas do nosso mercado, inclusive geograficamente. Por isso, não deve acontecer tudo de uma vez.” Em princípio, por si só, o Pix não deve afetar o mercado de crédito, diz Lucas. “Mas acredito que, aliado a outras iniciativas, como o Cadastro Positivo, tem um potencial de aumento da concorrência e de desconcentração do mercado.”
Fonte: Eletrolar News edição 139