Expectativas positivas no 2º semestre
Diferentes categorias de produtos apresentam bons resultados, e a tecnologia deverá ter papel importante nas vendas. “Quando se fala em tech & durables, 2024 se apresenta como um ano de possível recuperação de margem para o varejo e a indústria”, diz Ricardo Moura, head de market intelligence da NielsenIQ GfK.
por Leda Cavalcanti
Quais categorias de produtos deverão ter mais destaque neste semestre?
Ricardo Moura – Além das categorias que se beneficiaram pelas constantes ondas de calor que assolaram o Brasil desde o final do Q3 de 2023 (ar-condicionado e ventiladores), temos com destaque positivo refrigeradores e máquinas de lavar, em que a pressão inflacionária/de custos parece diminuir, além de tablets. Os televisores continuam em um momento positivo (desde 2022) em vendas unitárias e, aparentemente, a corrosão de preços parece estar sendo superada. Por outro lado, smartphones também aparecem bem neste ano de 2024 e podem ser uma boa aposta para o segundo semestre de 2024. Monitores e air fryers continuam avançando muito bem, mas com constante pressão em price point, seja por mix, seja por corrosão de margem, o que pode ser impeditivo para um desenvolvimento mais saudável de ambas as categorias ao longo deste ano. Falando de tecnologia no geral, a entrada da inteligência artificial em produtos como smartphones e laptops – mesmo que ainda em devices premium – tende a ser algo importante para o mercado a médio prazo, quando devices intermediários deverão também ganhar esta feature.
As vendas, neste ano, deverão superar as registradas em 2023?
RM – Em 2023, tivemos um crescimento em vendas totais de unidades, mas com um esforço muito grande de mix e precificação. Neste ano, vemos uma situação bem distinta, em que temos crescimento do volume total de vendas sem um impacto ou esforço de precificação como visto no ano passado. Assim também há crescimento em valor do mercado. Quando se fala em tech & durables, 2024 se apresenta como um ano de possível recuperação de margem para ambos, varejo e indústria.
Há ações estratégicas indicadas para a indústria e o varejo neste semestre?
RM – A discussão de price point para a categoria de tech & durables entre os canais é algo que deve ser monitorado de forma mais próxima pela indústria e pelo varejo. Ainda existem distinções recorrentes e significativas quando comparamos os mesmos produtos de T&D, com a mesma marca e mesma especificação técnica, nos canais de loja física e online (1P e 3P). Isso gera um importante ponto de discussão sobre o retorno que cada canal oferece e, na perspectiva atual de equilíbrio de vendas entre online e loja física, sobre até onde é saudável explorar ou não reduções de margem para alavancar um canal em detrimento do outro.
“A experiência dentro da loja conta e muito, ainda mais com vendedores que levem conhecimento técnico sobre o produto para um consumidor que muitas vezes não é tão próximo de tecnologia.”
A omnicanalidade terá mais importância?
RM – Pensando no segmento de tech & durables, o consumidor brasileiro continua sendo uma das referências globais em omnicanalidade. O que temos, hoje, é um cenário de equilíbrio entre as vendas em lojas físicas e no canal online, indicando que a quantidade de touchpoints nesta jornada de compras é, sim, complexa. Mas o consumidor se encontra bastante confortável em explorar todas as possibilidades, o que cria um movimento natural de “push” na indústria e no varejo para a continuidade de oferta de mix, promoções e agilidade que gerem atenção e ativação de leads reais de vendas, não importando onde será a venda final (online ou loja física).
Os marketplaces continuarão crescendo?
RM – O 3P (marketplace) continua sendo o canal com maior expressão de crescimento desde o ano passado, quando já havia apresentado crescimentode praticamente dois dígitos. Neste ano, com base nos resultados do Q1, vem demonstrando força ainda maior para todas as principais categorias de tech & durables. Isso mostra um amadurecimento incrível do mercado como um todo, em que a busca da maximização de vendas se torna bem fluída, seja na loja física, na venda direta (1P) ou através de sellers (3P) no online.
As vendas serão maiores nos canais físicos ou nos digitais?
RM – Não devemos mais pensar nessa separação de forma tão rígida. Como sabemos, hoje a jornada de compra do consumidor é totalmente integrada e fluída. Para ele, entrar em uma loja física e acessar o aplicativo dessa ou de outra loja é algo natural. Por isso mesmo, a experiência dentro da loja, por exemplo, conta e muito, ainda mais com vendedores que levem conhecimento técnico sobre o produto para um consumidor que muitas vezes não é tão próximo de tecnologia. Para o mundo online, essa regra também é válida, mas com as marcas fazendo uso de influenciadores com conhecimento técnico, por exemplo, para destacar as funcionalidades dos produtos. Independentemente desse estímulo de experiência e conhecimento técnico que ambos os canais oferecem, fica claro que em uma jornada de compra mais longa, como é a de T&D, a integração da estratégia on e off não é um mero discurso. É, sim, uma realidade necessária para que novos consumidores entrem em categorias com baixa incidência domiciliar, como o aspirador de pó robô ou cafeteiras single serve. Ou é preciso que consumidores das categorias se integrem de forma total com o avanço de tecnologia (smart TV, smartphones, etc.) e, com isso, se sintam mais seguros em investir seu dinheiro em um novo device.
“A entrada da inteligência artificial em produtos como smartphones e laptops – mesmo que ainda em devices premium – tende a ser algo importante para o mercado a médio prazo.”
O consumidor está mais confiante ou ainda teme contrair dívidas?
RM – Se nos restringirmos à perspectiva de evolução do mercado de T&D até o momento, neste ano, fica claro que temos um consumidor muito mais confiante do que tínhamos no passado, talvez impulsionado por uma taxa Selic um pouco mais palatável. Outro ponto importante é o maior controle do planejamento de gastos por parte dos consumidores, o que está em linha com a queda gradual e constante da inadimplência nos últimos meses.
Fonte: Revista Eletrolar News – Edição #161