
GfK – Novos consoles, notebooks gamer e TV serão destaque em 2022
por Leda Cavalcanti
O ano de 2022 começa com os brasileiros muito mais digitais. O consumo se move no formato híbrido, entre o online e o offline, tudo dependendo da própria conveniência, o que levou a indústria e o varejo a pensarem muito além da estratégia de canais. “O jogo, agora, é entender as múltiplas jornadas de consumo”, diz Henrique Mascarenhas, diretor comercial Latam da empresa de pesquisas GfK, nesta entrevista em que faz um balanço de 2021 e projeta como será 2022, um ano agitado, com eleições presidenciais e Copa do Mundo, para as diferentes categorias de produtos do segmento de eletroeletrônicos.
Como a GfK avalia o ano de 2021 para o segmento de eletros?
Henrique Mascarenhas – Foi mais umano muito desafiador. Contudo a natureza desses desafios foi diferente dos que enfrentamos em 2020, quando se deflagrou a pandemia. Precisamos começar falando sobre a consolidação da jornada fígital do consumidor, que agora tem uma bagagem digital maior e fez com que o varejo e a indústria tivessem que pensar além da estratégia de canais. O jogo, agora, é entender as múltiplas jornadas de consumo, que são híbridas entre online e offline, e centradas na conveniência.

“Em 2022, continua a tendência de produtos que estão relacionados às atividades no lar, como fritadeiras sem óleo, aspiradores de pó, cooktops e fogões, além dos refrigeradores.”
Na dinâmica do ano, com as principais commodities (aço, petróleo, cobre, alumínio) em alta, o preço do frete internacional aumentado em cinco vezes e a taxa de câmbio real mais desvalorizada desde setembro de 2001, a indústria não teve opção senão repassar esses custos ao consumidor. Previmos, no início de 2021, duas categorias de produtos que se consolidariam no mercado de eletroeletrônicos para mitigar essa alta de custos e permitir que o consumidor tivesse opções: affordable premium e os downgraded. E foi o que aconteceu. Ou seja, a indústria passou a oferecer produtos premium que têm as características mais procuradas pelo consumidor, mas com especificação mais simples e, portanto, preço menor. Do outro lado, foram ofertados produtos com o mínimo de características possíveis para conseguir o menor custo e, por consequência, o preço mais baixo no ponto de venda.
Como foi a confiança do consumidor?
HM – A confiança do consumidor oscilou muito, sempre no campo do pessimismo. Chegamos a esboçar uma recuperação rumo ao otimismo, que se esvaiu em setembro com as turbulências políticas e econômicas. Os mais impactados desde o início da pandemia, em março de 2020, foram as famílias com renda inferior a R$ 4.800,00, que estão consideravelmente mais pessimistas na comparação com as de renda mais alta. Isso significa que o consumo das classes C, D e E (aproximadamente 80% das famílias) foi mais prejudicado, o que reforça a necessidade de produtos de preço mais baixo.
Quais foram os pontos positivos?
HM – Tivemos pontos positivos a comemorar, como a evolução da vacinação em 2021, que foi fundamental para a consistente recuperação dos postos de trabalho. Ainda que a taxa de desemprego esteja alta e os salários médios mais baixos, vislumbramos uma volta dos serviços que foram drasticamente afetados em 2020, dando mais dinamismo à economia do dia a dia.
Os vários aprendizados que a pandemia trouxe para o setor de eletroeletrônicos também estão no balanço positivo. O primeiro é o que chamamos de “comportamentos dentro do lar” (@home). Os lares ganharam uma nova dimensão na vida das pessoas, independentemente da classe social. São dimensões perenes, com impacto no longo prazo: mais alimentação em casa, diversão em casa, trabalho e estudo em casa, e atividades de limpeza – após meses de covid-19, sabemos que nossa vida será muito mais híbrida entre o que fazemos dentro de casa e fora dela, tudo potencializado pelos aparelhos conectados. Isso beneficia os eletroeletrônicos, pois são eles que possibilitam essa vida híbrida fluida.
Entre 2020 e 2021, o Brasil também deu um salto na utilização do digital como ferramenta de compra, comunicação e diversão – principalmente no mobile. Essa tendência foi acelerada por conta da pandemia, mas os aprendizados ficam no longo prazo. Em 2021, aproximadamente 50% das compras de eletroeletrônicos foram finalizadas no e-commerce (com um protagonismo dos apps mobile)– até 2019 esse número estava abaixo de 25%. Não somente as pessoas aprenderam a comprar online, como também tiveram boas experiências. Elas perderam o medo do digital. O varejo também mudou, seja iniciando ou ampliando suas vendas via e-commerce próprio, marketplace, via aplicativos ou mesmo via apps de comunicação como o WhatsApp.
Esse salto digital dos brasileiros faz com que o consumo seja fígital, isto é, o físico e o digital são aliados na jornada de compra. As pessoas pesquisaram produtos e preços, e compraram nos locais (físicos ou digitais) que eram mais convenientes naquele momento. Nesse cenário atual, a jornada de compras do consumidor é muito mais relevante que os canais individuais. A pergunta a que o varejo e a indústria de eletroeletrônicos vão ter que responder é: será que a minha estratégia omnichannel é aderente à jornada fígital do meu consumidor-alvo? Gosto de pensar que 2021 foi uma continuação de 2020, consolidamos hábitos e atitudes, e iniciamos a vida híbrida, pois teremos que conviver com o novo vírus por mais tempo.
“Os novos consoles e notebooks gamers deverão agitar esse mercado em 2022. Os wearables se conectam à tendência de bem-estar e vida saudável, que ganha corpo ano a ano. Smartwatches e fones de ouvido deverão ser algumas das boas apostas da indústria e do varejo.”
Quais os produtos que mais se destacaram em 2021?
HM – Os que mais se destacaram durante o ano foram aqueles relacionados com a nossa vida híbrida e com a nova dimensão dos lares. Claro que a tendência vem em desaceleração (depois de um boom em 2020), mas é algo estrutural. É a nossa evolução para uma vida híbrida de trabalho, estudos e atividades dentro e fora de casa.
A tendência de premiunização se confirmou durante o ano?
HM – Essa tendência se mantém, entretanto começa a ficar mais restrita às famílias com renda mais alta, uma vez que aquelas com renda inferior a R$ 5 mil estão com a confiança bem mais baixa e apreensivas com relação ao seu presente e ao futuro. Mesmo as famílias com maior renda sentiram a alta dos preços dos eletroeletrônicos, que ficou acima da inflação medida pelo IPCA. Isso reforça a ascensão dos produtos affordable premium, que foram os mais procurados porque oferecem ao consumidor as principais características premium, mas com especificações mais simplificadas.
A volta dos produtos premium, super especificados nas linhas de eletroeletrônicos, dependerá muito da recuperação da massa salarial dos brasileiros, que hoje está no mesmo nível que tínhamos em 2017, ainda na saída dos dois anos de recessão. Outro ponto é o possível arrefecimento dos custos, que poderá vir por dois canais: queda dos preços dos insumos no mercado internacional e a valorização do real. A tendência de produtos affordable premium e downgraded, que começou em meados de 2020 e se intensificou em 2021, deve perdurar em 2022.
“Alguns produtos de mais baixa penetração nos lares deverão apresentar crescimento expressivo, como adegas e cervejeiras, máquinas de lavar louça e os vaporizadores de roupas.”
Quais produtos deverão se destacar em 2022?
HM – Continua a tendência dos produtos que estão relacionados às atividades no lar (@home), porém numa intensidade bem menor do que aquela vista em 2020 e 2021. Nessa gama de produtos, estão os laptops e displays, fritadeiras sem óleo, aspiradores de pó, cooktops e fogões, além dos refrigeradores. Alguns produtos de mais baixa penetração nos lares deverão apresentar crescimento expressivo, como adegas e cervejeiras, máquinas de lavar louça e vaporizadores de roupas.
Não podemos nos esquecer de que em 2022 teremos a Copa do Mundo. Excepcionalmente, ela acontecerá no quarto trimestre, o que deverá aquecer muito as vendas de televisores no segundo semestre. O destaque ficará com os aparelhos com telas acima de 55” e com a característica smart. Desde 1998, o mercado de televisores cresce nos anos em que ocorre esse evento esportivo.
Os smartphones de tela acima de 5,8” continuarão a ganhar espaço, pois a categoria é essencial e cada vez mais presente na vida das pessoas. Finalmente, vale destacar alguns produtos que deverão despontar em 2022: os games e os wearables. Os games despontaram durante a pandemia, mas muitas das novidades foram adiadas para o final de 2021 e início de 2022. Os novos consoles, notebooks gamers e os novos títulos e franquias deverão agitar esse mercado em 2022, ainda restrito a uma parcela da população com renda mais elevada. Os wearables se conectam à tendência de bem-estar e vida saudável, que ganha corpo ano a ano. Smartwatches e fones de ouvido deverão ser algumas das boas apostas da indústria e do varejo.
Quais fatores podem elevar a confiança do consumidor?
HM – Os fatores fundamentais para elevar a confiança do consumidor, neste momento, são: recuperação do emprego e renda, arrefecimento da inflação e menos turbulências político-econômicas de curto prazo. Associa-se ao movimento de recuperação a confiança na taxa de câmbio, que impacta vários preços de referência da população, como o do gás, combustíveis e energia elétrica. Não podemos nos esquecer de que 2022 será um ano de eleições, (primeiro turno no início de outubro) com uma Copa do Mundo somente no final do ano, junto com Black Friday e Natal.
A confiança das famílias de menor renda está significativamente mais baixa. A redução de desigualdades, principalmente aquelas provocadas pela pandemia, também será um fator preponderante para uma melhora na perspectiva geral. Desde o ano de 2014, o brasileiro entrou na zona pessimista e lá ficou. Há muito ainda o que fazer para trazer de volta a confiança do consumidor para o lado otimista. O otimismo somente virá quando o brasileiro tiver maior confiança no seu futuro e se sentir confortável com seu presente. A recuperação do emprego e o arrefecimento da pandemia serão fundamentais para a reversão desse quadro pessimista de quase oito anos.

Fonte: Eletrolar News #146